Entrelaçamento Quântico: A Intrigante Conexão entre Partículas

O entrelaçamento quântico é um fenômeno intrigante que causou espanto em grandes nomes da física, até mesmo Albert Einstein descreveu esse fenômeno como fantasmagórico a distância por não entender bem sua natureza. Ainda hoje esse fenômeno assombra os físicos do mundo por sua estranheza.

Adriano Almeida

1/12/20257 min read

Entrelaçamento Quântico

O O entrelaçamento quântico (ou emaranhamento quântico) é um dos fenômenos mais fascinantes e misteriosos da física quântica. Ele descreve uma situação na qual duas ou mais partículas se tornam tão fortemente correlacionadas entre si que o estado de uma partícula não pode ser descrito independentemente do estado da outra, mesmo que essas partículas estejam separadas por grandes distâncias.

O que é o entrelaçamento quântico?

Quando duas partículas estão entrelaçadas, suas propriedades, como posição, momento (quantidade de movimento), spin (uma propriedade relacionada ao giro da partícula), ou até polarização, tornam-se fortemente interdependentes. Isso significa que, ao medir uma propriedade de uma partícula, instantaneamente saberemos o valor da mesma propriedade da outra, não importa a distância entre elas. Essa correlação é imediata e parece não respeitar as limitações da velocidade da luz, desafiando nossas intuições sobre o espaço e o tempo.

Como o entrelaçamento quântico acontece?

  1. Criação do entrelaçamento: O entrelaçamento geralmente ocorre quando duas partículas interagem de maneira muito forte, como no processo de decadência de partículas ou em experimentos controlados de criação de pares de partículas entrelaçadas. Por exemplo, se duas partículas (como fótons ou elétrons) colidirem e se afastarem de tal maneira que suas propriedades fiquem relacionadas, elas se tornam entrelaçadas.

  2. Partículas entrelaçadas: Após a interação, essas partículas passam a ter um estado quântico comum, e as propriedades que elas compartilham — como o spin ou a polarização — são "correlacionadas", de tal forma que, se você medir uma dessas propriedades em uma partícula, saberá instantaneamente o valor da mesma propriedade na outra, mesmo que elas estejam a bilhões de quilômetros de distância.

  3. Medindo as partículas: Se você medir o spin de uma partícula em uma direção específica, por exemplo, e descobrir que o spin é "para cima", você sabe, instantaneamente, que a outra partícula, medida na mesma direção, terá o spin "para baixo". Isso acontece independentemente de quão distantes as partículas estejam uma da outra — a informação sobre o estado de uma partícula parece "viajar" instantaneamente para a outra.

O paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen (EPR)

O entrelaçamento quântico foi desafiado por Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen em 1935, no famoso paradoxo EPR. Eles usaram o entrelaçamento para argumentar que a mecânica quântica estava incompleta, sugerindo que, ao medir a propriedade de uma partícula, "informações ocultas" poderiam ser passadas entre as partículas, algo que parecia violar o princípio da localidade, ou seja, a ideia de que as informações não podem viajar mais rápido do que a luz.

Einstein se referia a isso como uma "ação fantasmagórica à distância" e acreditava que havia algum tipo de informação oculta que estava permitindo essa "comunicação" instantânea entre as partículas.

A Experiência de Bell

Nos anos 1960, o físico John Bell formulou um teorema que permitiu testar experimentalmente se as previsões da mecânica quântica sobre o entrelaçamento estavam corretas. As desigualdades de Bell sugerem que, se a natureza tivesse "variáveis ocultas" para explicar o comportamento de partículas entrelaçadas (como Einstein sugeria), as correlações entre partículas entrelaçadas não poderiam ser tão fortes quanto as previstas pela mecânica quântica.

Numerosos experimentos, especialmente a partir das décadas de 1970 e 1980, testaram essas desigualdades e confirmaram que as previsões da mecânica quântica estavam corretas, ou seja, o entrelaçamento quântico não é uma ilusão, e as partículas podem, de fato, estar correlacionadas instantaneamente, mesmo à distância.

O que o entrelaçamento quântico nos ensina?

O entrelaçamento quântico desafia a visão clássica do mundo, onde as informações e os estados das partículas são locais e independentes. Em vez disso, o entrelaçamento sugere que as partículas podem estar conectadas de maneiras que transcendem o espaço e o tempo convencionais. Esse fenômeno provoca questões fundamentais sobre a natureza da realidade, do tempo e da causalidade.

Alguns pontos interessantes sobre o entrelaçamento quântico:

  • Não há "comunicação" instantânea: Embora as partículas entrelaçadas pareçam influenciar uma à outra instantaneamente, isso não permite transmitir informações mais rápido que a luz, pois o processo de medição em si é aleatório. Ou seja, você não pode usar o entrelaçamento para enviar mensagens instantâneas.

  • "Desapego" das distâncias: O entrelaçamento quântico indica que as partículas não têm propriedades "bem definidas" até que sejam medidas, e suas propriedades estão interligadas de uma maneira que não pode ser explicada apenas pela física clássica.

  • Aplicações práticas: O entrelaçamento quântico tem aplicações em computação quântica e criptografia quântica, áreas que estão em expansão e têm o potencial de revolucionar a tecnologia. Por exemplo, a criptografia quântica usa o entrelaçamento para criar sistemas de comunicação ultra-seguras, onde qualquer tentativa de interceptação da informação alteraria o estado das partículas, alertando os envolvidos.

O entrelaçamento quântico é um fenômeno profundamente não intuitivo e fundamental para a compreensão da mecânica quântica. Ele nos mostra que as partículas podem estar profundamente interconectadas de uma maneira que desafia nossas noções clássicas de separação e localidade. Embora seja um conceito central para muitas tecnologias emergentes, como a computação quântica, ele também levanta questões filosóficas e metafísicas sobre a natureza da realidade e da informação.

Os experimentos de Alain Aspect realizados na década de 1980 são fundamentais para a comprovação do entrelaçamento quântico e para o teste das desigualdades de Bell, que foram propostas para verificar a validade das previsões da mecânica quântica contra as ideias de variáveis ocultas (hipótese que sugeria que as partículas tinham informações ocultas, que explicariam suas correlações sem necessidade de interação instantânea entre elas). Esses experimentos ajudaram a resolver uma grande disputa entre a interpretação clássica e a interpretação quântica da realidade.

Experimentos de Alain Aspect

Alain Aspect e sua equipe, nos anos 1980, realizaram uma série de experimentos que testaram as desigualdades de Bell, e esses experimentos foram cruciais para confirmar a validade do entrelaçamento quântico. As principais características dos experimentos de Aspect são as seguintes:

1. Configuração do Experimento de Aspect (1982)

Aspect utilizou fótons (partículas de luz) para testar as correlações preditas pela mecânica quântica. A ideia básica do experimento foi a seguinte:

  • Fonte de fótons entrelaçados: Uma fonte gerava pares de fótons entrelaçados em uma condição especial. Quando os fótons são entrelaçados, as propriedades de um fóton, como a polarização, são fortemente correlacionadas com as do outro fóton, independentemente da distância entre eles.

  • Detectores em posições separadas: Os fótons eram enviados para dois detectores, A e B, colocados a uma certa distância um do outro, e em direções diferentes. Cada detector podia medir a polarização dos fótons. A chave aqui era que os detectores estavam separados por uma distância considerável, de modo que qualquer "comunicação" entre eles teria que ocorrer de maneira instantânea, violando o princípio da localidade.

  • Mudança aleatória de ângulos de medição: Os ângulos de medição da polarização eram escolhidos aleatoriamente para garantir que não houvesse "preparação" ou "decisão prévia" das medições. Isso foi feito para evitar qualquer tipo de influência causal clássica entre os dois detectores.

2. Resultado do Experimento de Aspect (1982)

O que os experimentos de Aspect mostraram foi que, de fato, as correlações entre os fótons entrelaçados violaram as desigualdades de Bell. Ou seja, os resultados observados para a polarização dos fótons estavam em perfeito acordo com as previsões da mecânica quântica e não podiam ser explicados por variáveis ocultas locais, como as sugeridas por Einstein e outros.

Esses resultados confirmaram que, quando os fótons estavam entrelaçados, suas propriedades (como a polarização) estavam instantaneamente correlacionadas, mesmo que estivessem separados por grandes distâncias. Ou seja, a medição de uma partícula parecia afetar a outra imediatamente, sem qualquer comunicação física entre elas, algo que violaria a localidade e a causalidade da física clássica.

3. Importância dos Experimentos de Aspect

Os experimentos de Alain Aspect foram essenciais por várias razões:

  • Verificação das desigualdades de Bell: Os experimentos de Aspect mostraram que as previsões da mecânica quântica, que indicam que o entrelaçamento quântico é real, estavam corretas e não podiam ser explicadas por uma teoria clássica de variáveis ocultas.

  • Refutação da ideia de "variáveis ocultas" locais: Os resultados confirmaram que as correlações quânticas entre as partículas não podiam ser explicadas por uma "comunicação invisível" ou por informações ocultas sendo transmitidas entre as partículas antes da medição. A mecânica quântica realmente descrevia o comportamento das partículas da maneira como elas eram observadas, sem a necessidade de variáveis ocultas locais.

  • Desafios à intuição clássica: O fenômeno de entrelaçamento quântico demonstrou que, em escalas quânticas, a realidade pode ser muito mais contraintuitiva e entrelaçada do que a física clássica sugere. Isso levantou questões filosóficas profundas sobre a natureza da realidade e da informação no universo.

4. Melhorias nos Experimentos de Aspect

Embora os experimentos de 1982 tenham sido cruciais, as versões mais modernas dos experimentos (realizadas após 1982) tentaram superar algumas limitações dos testes originais, como o "viés de seletividade" (quando os detectores não são completamente aleatórios ou possuem falhas). Os experimentos atuais ainda confirmam que a mecânica quântica continua a ser a teoria mais precisa para descrever o entrelaçamento quântico e as correlações não locais entre partículas.

Os experimentos de Alain Aspect representaram uma revolução empírica no entendimento do entrelaçamento quântico. Eles forneceram uma evidência sólida de que o entrelaçamento quântico não é apenas uma previsão teórica, mas um fenômeno real, que desafia as intuições clássicas sobre a separação entre objetos e as limitações da velocidade de comunicação (como a velocidade da luz). Esse trabalho foi um marco fundamental na fundação da mecânica quântica e ajudou a consolidar o entendimento de que a realidade quântica é de fato muito mais interconectada e não local do que imaginávamos anteriormente.